Preparação prévia como professor para iniciar o processo educacional com aluno que tem surdez profunda, conhecendo apenas libras para comunicação, não sendo oralizado nem conhecendo português.

“Na segunda semana do próximo ano, professores e funcionários da escola “O espaço da Educação” participarão durante dois dias de atividades pedagógicas dedicados ao planejamento interno da escola, quando serão definidas normas, propósitos curriculares e formas de avaliação, além de três dias de formação. A escola irá receber alunos da inclusão, dentre eles João, com 10 anos de idade, com surdez profunda, que irá cursar o 6ºano. No momento do planejamento serão debatidos os seguintes assuntos:” (observação-dados fictícios)

*Conhecer a surdez: anatomia e funcionamento do sistema auditivo;
*Conhecer a Língua Brasileira de Sinais;
*Ter em mãos dicionário ilustrado de libras;
*Sensibilizar o professor para a experiência com a surdez;
*Estar em sintonia com o intérprete e o professor de recursos e o professor surdo no que tange a aplicação dos conteúdos e de aulas bem como a elaboração de provas e correção das mesmas.


Diagnóstico das condições do aluno: Conhecer as características da surdez (surdez profunda- acima de 91 dB. Nesse caso a pessoa poderá ter dificuldade para ouvir o ruído de caminhão, de discoteca, de uma máquina de serrar madeira ou ainda, o ruído de um avião decolando). Dificilmente desenvolverá a linguagem oral espontaneamente; só responde auditivamente a sons muito intensos como: bombas e trovão; frequentemente utiliza a leitura orofacial; necessita fazer uso de aparelho de amplificação/ ou implante coclear, bem como de acompanhamento especializado. Saber do período de aquisição; causas da surdez; localização. Analisar o desenvolvimento em relação ao aprendizado e domínio da L. Portuguesa.Observar a sociabilidade, cognição, linguagem ( oral, escrita, viso espacial), afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos.Registrar as observações iniciais em relatórios, contendo todos os dados colhidos ao longo do processo e demais avaliações relativos ao desenvolvimento do desempenho de cada um.


Adaptações do aluno em sala:
*Acompanhamento de um intérprete;
*Riqueza de materiais e recursos visuais ( imagéticos) para possibilitar a abstração dos significados.
*Conscientização dos colegas em relação ao respeito de suas individualidades.


Instalação de artefatos tecnológicos necessários:
*Sala com imagens visuais de todo tipo de referências que possam colaborar no aprendizado;
*Alfabeto manual; Mímica e dramatização; Vídeo/ TV/ retroprojetor, computador, slides;Softwares educativos;
*Língua Portuguesa oral/ leitura labial; Língua Portuguesa escrita ( palavras chave);
Solução para entraves ao desenvolvimento didático devido a deficiência:
*Atendimento em período contrário ao da escolarização para desenvolver a modalidade oral da língua portuguesa: Práticas metodológicas do ensino de segundas línguas;
*Utilização da escrita na interação simultânea professor/ aluno ( conversação);
*Escolha prévia de textos de acordo com a competência lingüística dos educandos;
*Apresentação de referências relevantes (contexto histórico, enredo, personagens, localização geográfica, biografia do autor, etc) sobre o texto, em língua de sinais ou utilizando outros recursos, antes de sua leitura;
*Exploração do vocabulário e da estrutura do texto (decodificação de vocábulos desconhecidos, por meio de emprego de associações e analogias);
*Apresentação do texto por escrito;Ênfase nos aspectos semânticos e estruturais do texto;
*Estímulo à formação de opinião e do pensamento crítico;Interpretação de textos por meio de material plástico ( desenho, pintura e murais) ou cênico ( dramatização e mínica);
*Adequação de conteúdos e objetivos; Avaliação diferenciada, considerando-se a interferência de aspectos estruturais da língua de sinais.
*Ações de acolhimento coletivas que incluam os demais alunos e outros atores da escola; *Informar a comunidade escolar sobre a diferença relativa à surdez, suas especificidades e a língua de sinais;
*Refletir sobre a necessidade de utilizar a língua de sinais no processo educacional e buscar formas para sua aquisição e desenvolvimento pelos demais alunos e profissionais da escola, a partir de suas relações com associações de surdos ou outras referências comunitárias;
*Desenvolvimento de atividades visando integração com os outros alunos:Trabalhos em grupos;Apresentações.Execução de exercícios e provasPlanejar atividades amplas, que tenham diferentes graus de dificuldade e que permitam diferentes possibilidades de execução e expressão;
*Propor várias atividades para trabalhar um mesmo conteúdo;
*Criação de um glossário ilustrado com termos específicos( para ampliação do vocabulário de Português).
*Utilizar metodologias que incluam atividades de diferentes tipos, como pesquisas, projetos, oficinas, visitas, etc;
*Organizar o tempo das atividades propostas, levando-se em conta que atividades exclusivamente verbais tomarão mais tempo de alunos surdos;
*Alterar objetivos que exijam percepção auditiva;
*Utilizar diferentes procedimentos de avaliação que se adaptem aos diferentes estilos e possibilidades de expressão dos alunos.
*Algumas áreas necessitarão de adaptações curriculares.
*Trabalho cooperativos com outros alunos.
*Organizar as atividades de aprendizagem em pequenos grupos para estimular a cooperação e comunicação entre os alunos.
*Avaliação do alunos: resultados de provas periódicas classificatórias não devem ser supervalorizadas, o que deve prevalecer são as observações diárias de caráter diagnóstico. Em relação a avaliação formal certos cuidados na elaboração e aplicação devem ser tomados.
*Conteúdos devem estar adequados ao que foi trabalhado durante as aulas de português escrito, as questões devem estar relacionadas umas as outras , delineando um contexto lógico em toda a prova.

Interação com a família do aluno
*Contato com a família através de agendas e reuniões.
*sensibilização dos familiares e a população em geral para o respeito às potencialidades dos surdos, objetivando a integração plena dos seus alunos.

"A integração do aluno surdo é um desafio que deve ser enfrentado com coragem, determinação e segurança. A decisão de encaminhar um aluno para a classe de ensino regular deve ser fruto de um criterioso processo de avaliação. Finalmente, deve-se ter clareza que essa integração não passa exclusivamente pela sua colocação na turma com crianças ouvintes. A verdadeira integração implica em reciprocidade. A criança surda poderá iniciar seu processo de integração na família, na vizinhança, na comunidade, participando de atividades sócio-recreativas, culturais ou religiosas com crianças e adultos "ouvintes" e dar continuidade a esse processo na escola especial ou regular, de acordo com suas necessidades especiais. Garantir ao aluno surdo um processo de escolarização de qualidade é fator fundamental para sua integração plena."


Bibliografia: DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Atendimento Educacional Especializado- Pessoa com Surdez. Brasília/DF :SEESP/SEED/MEC. 2007ARANHA, Maria Salete Fábio. Saberes e práticas da Inclusão. Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. Brasília/ DF :SEESP/MEC. 2005
webliografia: http://www.ines.gov.br/ines_livros/32/32_006.HTM

Contribuição: Marilanda e Marília


Educação Escolar Inclusiva para Pessoas com Surdez e as Práticas Pedagógicas


Educação Escolar Inclusiva para Pessoas com Surdez

A inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus direitos escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios constitucionais do nosso país. Se somente o uso de uma língua bastasse para aprender, as pessoas ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que entram na escola com uma língua oral desenvolvida. A aquisição da Língua de Sinais, de fato, não é garantia de uma aprendizagem significativa.
O ambiente em que a pessoa com surdez está inserida, principalmente o da escola, na medida em que não lhe oferece condições para que se estabeleçam trocas simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas, conseqüentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento.
Considerando a necessidade do desenvolvimento da capacidade representativa e lingüística dos alunos com surdez, a escola comum deve viabilizar sua escolarização em um turno e o Atendimento Educacional Especializado em outro, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras e o ensino da Língua Portuguesa.
As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização das pessoas com surdez. Torna-se urgente, repensar essas práticas para que os alunos com surdez, não acreditem que suas dificuldades para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que a surdez lhes impõe, mas principalmente pelas metodologias adotadas para ensiná-los.

Momento Didático-Pedagógico:
O Atendimento Educacional Especializado em Libras na Escola Comum
O atendimento ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum.
A organização didática desse espaço de ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de
todo tipo de referências que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos curriculares em estudo, na sala de aula comum. Os materiais e os recursos para esse fim precisam estar presentes na sala de Atendimento Educacional Especializado, quais sejam: mural de avisos e notícias, biblioteca da sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de aula, roteiro de planejamento, fichas de atividades e outros.
Na escola comum, é ideal que haja professores que realizem esse atendimento, sendo que os mesmos precisam ser formados para ser professor e ter pleno domínio da Língua de Sinais. O Professor em Língua de Sinais, ministra aula utilizando a Língua de Sinais nas diferentes modalidades, etapas e níveis de ensino como meio de comunicação e interlocução.


Momento Didático-Pedagógico:
O Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras
Este atendimento constitui outro momento didático-pedagógico para os alunos com surdez incluídos na escola comum. O atendimento inicia com o diagnóstico do aluno e ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais.


Momento Didático-Pedagógico:
O Atendimento Educacional Especializado para o Ensino de Língua Portuguesa
Acontece na sala de recursos multifuncionais e em horário diferente ao da sala comum. O ensino é desenvolvido por um professor, preferencialmente, formado em Língua Portuguesa e que conheça os pressupostos lingüísticos teóricos que norteiam o trabalho, e que, sobretudo
acredite nesta proposta estando disposto a realizar as mudanças para o ensino do português aos alunos com surdez.

Nesta perspectiva, a sala de recursos para o Atendimento Educacional Especializado em Língua Portuguesa deverá ser organizada didaticamente, respeitando os seguintes princípios:

• Riqueza de materiais e recursos visuais (imagéticos) para possibilitar a abstração dos significados de elementos mórficos da Língua Portuguesa.
• Amplo acervo textual em Língua Portuguesa, capaz de oferecer ao aluno a pluralidade dos discursos, para que os mesmos possam ter oportunidade de interação com os mais variados tipos de situação de enunciação. Dinamismo e criatividade na elaboração de exercícios, os quais devem ser trabalhados em contextos de usos diferentes.

Fonte: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf
Contribuição e Postagem: Marília

sábado, 28 de novembro de 2009

Surdez

Em termos médicos, a surdez é categorizada em níveis do ligeiro ao profundo. É também classificada de deficiência auditiva, ou hipoacúsia.
Do ponto de vista educacional, a surdez refere-se à incapacidade da criança aprender a linguagem por via auditiva e ter um desempenho acadêmico. A partir da Lei 10436, o governo brasileiro reconhece a LIBRAS, como língua, e os surdos tem o direito que nas instituições educacionais as aulas sejam ministradas em LIBRAS, pelo menos com a presença de um interprete.Pois a surdez não interfere no desenvolvimento cognitivo.
Em termos culturais, surdez é descrita como uma identidade cultural, partilhada entre indivíduos Surdos ou com perda auditiva.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Surdez

Em meus estudos e em busca de material, encontrei uma preciosidade, um vídeo documentário, sobre uma escola para deficientes auditivos e visuais em Zagorsk, cidade próxima a Moscou. O filme foi produzido pela BBC em 1992. A escola de Zagorsk é inspirada no pensamento de Lev S. Vygotsky, famoso psicólogo russo. No documentário, os professores buscam incansavelmente formas de comunicação com os deficientes e relatam os progressos alcançados em vários casos. Ex-alunos da escola contam como o ambiente em Zagorsk transformou a vida deles, tirando-os do isolamento e tornando o mundo acessível.

Vou deixar os links do YouTube para as seis partes que formam o documentário. Todas são dubladas.
As Borboletas de Zagorsk
Parte I http://www.youtube.com/watch?v=bA_GMtqUGeQ&feature=relatedParte II http://www.youtube.com/watch?v=cTvvzBwhwvsParte III http://www.youtube.com/watch?v=NfkBsj2w0uA&feature=relatedParte IV http://www.youtube.com/watch?v=vLDROI206lw&feature=relatedParte V http://www.youtube.com/watch?v=aLQ1wSbc_xY&feature=relatedParte VI http://www.youtube.com/watch?v=Snn6YixcU4U&feature=related

Vale a pena assistir.
Contribuição e Postagem: por Marília

Atendimento educacional especializado: o que é? Por que? Como fazer?

A escola para todos não exclui, acolhe de forma incondicional todo e qualquer aluno. Não os inclui por uma questão meramente filosófica, de solidariedade ou compaixão, mas especialmente por uma questão de direito, que deve ser preservado por pais, professores e por todos nós, cidadãos conscientes de nossos deveres relativos à infância.

Sendo a educação um direito indisponível e do aluno, ele está alinhado a uma série de outros princípios de ordem constitucional e educacional. Há no momento uma grande preocupação relativa à inclusão escolar, dado que existem várias interpretações sobre o que é uma escola para todas as crianças, sobre a exclusão escolar, sobre a inserção dos alunos com deficiência e com altas habilidades nas escolas comuns e sobre o papel da educação especial, como uma das garantias da inclusão desses alunos.Há também muitas versões equivocadas do que a inclusão representa em termos de melhoria da qualidade do ensino das escolas.

A inclusão trouxe a idéia de uma escola para todos e também a consideração do que é a igualdade e as diferenças na escola. Este é um ponto que deve interessar muito aos professores, pois não devemos continuar nos sustentando na máxima aristotélica de “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”. Tratar desigualmente os desiguais pode cair no “ele não é igual a mim, então pode merecer outro tipo de tratamento”. Por essa máxima, justificam-se as estratificações dentro da sociedade, os agrupamentos, as categorizações existentes no Brasil, no mundo inteiro e que implicam em ações discriminatórias. Uma escola só para crianças pobres, um projeto só para crianças que têm um determinado tipo de problema, uma escola só para alunos com nível elevadíssimo de inteligência, uma só para alunos com deficiência - todas essas iniciativas discriminam e diferenciam para excluir.

As pessoas com deficiência e de outras minorias estão todas resguardadas pela Convenção da Guatemala que é muito clara ao dizer que não podemos diferenciar uma pessoa por uma deficiência e, se temos que fazê-lo, que seja para incluí-la e não para excluí-la. Por exemplo: tenho uma aluna cega que está na pós-graduação fazendo doutorado e precisa de um computador para acompanhar as aulas. Os outros alunos da sala não têm computadores à disposição. Ali existe uma ação discriminatória, mas afirmativa, com vistas a incluí-la no grupo, para que ela possa estar presente e freqüentando as aulas com aquela turma. Se um aluno permanece na sala de aula, com os demais colegas, mas tendo um professor para trabalhar com ele, à parte, faz atividades diferentes da turma, tem um currículo adaptado às suas necessidades, temos caracterizado um caso de diferenciação que o exclui. Essa é uma ação discriminatória que diferencia esse aluno pela deficiência, mas não para incluir, pois ele está no mesmo ambiente, mas não está tendo as mesmas oportunidades que os demais alunos estão tendo nessa mesma sala de aula. Diferente da minha aluna da pós-graduação que, mesmo sendo cega, tem os mesmos textos que estão sendo trabalhados pelos outros colegas e ainda pode escolher como o texto deve ser apresentado: em Braille ou digitalizado.

Estas são nuances muito difíceis de serem diferenciadas na cabeça do professor, que entende ensino de qualidade como sendo ensino diferenciado. Ensino escolar é igual para todos, oferecido para um mesmo coletivo e, portanto, não pode ser diferenciado para alguns alunos, na mesma sala de aula. Mas, como os professores querem que a aprendizagem seja homogênea, e que os seus alunos alcancem um mesmo nível de conhecimento, ao finalizarem a 1a, 2aséries etc, a saída que encontram é, no geral, separar os alunos que não conseguem esse feito e submetê-los a um currículo adaptado, a uma avaliação diferente, elaborada para alguns e não para todos os demais da turma. As nuances, repito, são sutis e perigosas e precisamos percebê-las. Se muitos pais e professores não as percebem ainda, nós temos de ensiná-los a fazer essas distinções e a atuar, pedagogicamente, sem discriminações.

Direito à igualdade e à diferença

Temos de saber andar no fio da navalha, assegurando o direito à igualdade quando as diferenças inferiorizam nossos alunos e assegurar o direito à diferença quando a igualdade os descaracteriza. Isso é muito diferente de tratar igualmente os iguais e desigualmente os diferentes.Trata-se de uma máxima importantíssima que se aplica não só à escola, como a qualquer agrupamento humano. Ela sustenta inúmeras ações que estão sendo desenvolvidas internacionalmente em favor do direito das pessoas a serem diferentes e do direito à igualdade quando há necessidade que essas pessoas sejam protegidas de qualquer ação discriminatória que possa inferiorizá-las.

Como professores que somos, é fundamental que adotemos essa máxima ao pensarmos em nosso projeto pedagógico, na gestão da escola, quando selecionamos as atividades que vamos desenvolver com nossos alunos nas salas de aulas, nas formas de avaliar o aproveitamento escolar. É preciso que se tenha muito claro que tanto o direito à igualdade quanto à diferença devem estar presentes, daí aprendermos a andar no fio da navalha, ou seja, equilibrando-nos entre a igualdade e a diferença, porque há momentos em que a igualdade tem que ser considerada e em outros que a diferença precisa ser vista e atendida, mas sem inferiorizações e discriminação. Não é fácil conseguir esse equilíbrio na escola, hoje, Acompanho o movimento em favor de uma escola para todos, da inclusão na sociedade e na educação desde os seus primeiros tempos. É no cotidiano escolar, dentro da sala de aula que percebemos todos esses movimentos e que podemos entender bem o que significa a consideração de igualdade e das diferenças dentro de um projeto educacional inclusivo. Caminhamos muito devagar, nessa direção.

Sinto que os pais, professores, gestores têm muita dificuldade para entender a legislação em vigor, que favorece a inclusão, pois há documentos que divergem, que se contradizem no modo de expressar o que significa uma escola para todos. Parece que eles têm a intenção de, por um lado, enfatizar a importância da escola para todos e considerar as diferenças não como alguma coisa que diminui, inferioriza, mas alguma coisa que tem ser considerada, um benefício para o próprio desenvolvimento da escola, e, por outro lado, existe muita dificuldade desses mesmos documentos compatibilizarem esses propósitos com práticas de ensino que dêem conta de operacionalizar, na sala de aula, os princípios da inclusão escolar.

Tanto isso é verdade que levamos um bom tempo para redigir um documento de apoio aos professores e pais e igualmente dirigido aos promotores, procuradores e juizes para que pudessem ter um acervo de contribuições no momento de pensar sobre um caso de exclusão escolar e entender melhor uma reivindicação, tomar uma atitude, julgar uma situação. Esse documento que já tem mais de três anos e foi pouco discutido na sua verdadeira essência. Ele garante igualdade, quando a diferença inferioriza e assegura a diferença, quando a igualdade descaracteriza os alunos em geral. Trata-se da cartilha “Acesso de alunos com deficiência nas classes e escolas comuns de ensino regular” www.prsp.mps.gov.br. A esse documento seguiram-se diretrizes e portarias governamentais, que contradiziam e de certa forma neutralizavam todos os desafios e desequilíbrios postos pela tarefa de educar a todos, como a inclusão propõe. Tivemos um período muito difícil nos primórdios da inclusão porque havia um descompasso grande entre o que se entendia como fundamentos de uma escola para todos, e o que se entende ainda como escola comum com programas compensatórios para alguns alunos, escolas especiais segregadas para alunos com deficiência.

Idéias que combatemos hoje, tais como “esse menino é pobre, de família desajustada, vai para escola e precisa ser submetido a programas compensatórios” têm origem no entendimento de que é preciso assimilar a cultura dominante, ou seja, um acervo de conhecimentos que todos devem ter, porque é imprescindível para “subir na vida”, ter sucesso na profissão etc. A seleção de alguns conhecimentos que seriam os dominantes e a idéia de que o conhecimento científico é o único que dá conta das explicações e soluções dos problemas do mundo de hoje, isso tudo precisa mudar. A ciência evoluiu. Antes achávamos que uma pessoa com Síndrome de Down não aprenderia a ler e, porque nós determinávamos isso, nada mais tínhamos a fazer por esses alunos, nas escolas comuns e especiais! .

Determinismo

A afirmação de que pessoas com deficiência grave não podem ter acesso à escola, às salas de aulas, não aprendem, vão se sentir excluídas decorre da nossa atribuição de limitações a certos alunos, que nada têm a ver com o aluno em si, mas que marcam sua trajetória escolar e até mesmo o excluem dela. Conheço uma turma em que um aluno a freqüenta de maca. Ele só abre e fecha os olhos. Mas os colegas percebem o que ele está ou não entendendo, pois já sabem os sinais pelos quais ele se comunica. A turma inventou com a professora uma maneira de ele perceber melhor o que está escrito na lousa - uma espécie de tela com os pontos fundamentais da aula. Esse aluno muitas vezes vai à escola em uma cadeira e se alimenta e é medicado por sonda o dia todo. Houve quem questionasse o que ele estaria fazendo na escola. Mas essa não é uma pergunta que temos que fazer. A pergunta seria: por que ele não vai à escola? Isso depende da visão que temos da situação desse aluno e de suas possibilidades/restrições, dificuldades. Se temos uma visão determinista, que vai justamente na direção de predefinir o que o nosso aluno vai ser, pode ser, futuramente - e fazemos muito isso - é melhor que ele fique em casa!Tenho outro caso de dois irmãos que têm uma doença muscular degenerativa. Um deles já está no fim de sua vida e sabe que vai morrer, assim como os seus colegas já sabem. Mas ele adora ir à escola. Ele não escreve mais e tem um colega que escreve para ele. Ele está falando muito mal, mas tem uma colega que sabe o que ele quer dizer e fala por ele. Isso não é compaixão apenas, o que já seria muito bom, mas é respeito por uma vida humana que está ali e que precisa ser atendida em seus anseios e direitos.

Os documentos em vigor, a própria LDBEN, consideram o ensino especial uma modalidade, mas também o entendem como sendo um sistema paralelo com seus níveis e etapas de ensino. Se o ensino especial é uma modalidade, como pode ter níveis? Se o sujeito está em uma escola especial, que certificação ele tem de seus estudos? A escola especial, mesmo sendo regularizada, tem que oferecer ensino especial e ensino especial não é ensino comum! Muitos acham que os pais podem escolher para o filho com deficiência uma escola comum ou uma escola especial. Ocorre que a educação é um direito que os pais têm que preservar para seus filhos e esse direito só é assegurado, nas escolas comuns.

Temos de ter bem claro esse direito indisponível dos alunos para que, de fato, se assegure a todos o acesso, a participação o prosseguimento dos estudos nas escolas comuns, de acordo com a capacidade de cada um, como prescreve a nossa Constituição. Não se exige de cada um de nós, professores, fazer milagres, pois quem aprende são os alunos! Nós ensinamos e os alunos aprendem e o que eles aprendem não é determinado pelo que nós ensinamos. Eles aprendem segundo suas capacidades e interesses. É uma outra visão determinista essa que nos faz achar que o ensino faz o sujeito aprender o que queremos que ele saiba e no nível de entendimento que estipulamos.

Livre-arbítrio

O melhor ensino do mundo vai passar sempre por um crivo na cabeça do aluno, ou seja, temos algo que devemos preservar, que é o seu livre-arbítrio de concordar ou não, gostar ou não, selecionar, guardar, abandonar o que lhe é ensinado, porque isso é próprio da nossa liberdade de ser e de agir, como seres humanos. Eu gosto de dar aula, eu estudo, me preparo, especialmente quando vou oferecer uma disciplina nova. Eu posso dar a melhor aula, mas eu não posso garantir que ela tenha, na cabeça dos meus alunos, a repercussão que almejei para ela.

Gosto muito de um texto do Prof. Jorge Larrosa, da Universidade de Barcelona, sobre a lição. Ele compara a lição a uma carta que ele quer enviar a alguém muito querido, contando-lhe aquilo que para ele é importante; ele quer compartilhar essa mensagem com o outro e espera do outro uma resposta. Mas ele não pode garantir que essa resposta venha e nem mesmo que ela concorde com o remetente. Em outro texto, o mesmo autor recorre à história de “Agamenon e o porqueiro”. Agamenon é o dono do porqueiro e dos porcos. Quando Agamenon diz alguma coisa, acha que está falando a única verdade. Como ele é o “dono do porqueiro e dos porcos”, pensa que o porteiro vai acolher a sua verdade. Mas ao porqueiro - que não tem nem nome – resta sempre a liberdade de estar ou não convencido dela!

As grandes barreiras para a aceitação da inclusão escolar decorrem do que entendemos das histórias precedentes. Nós achamos que todas as “cartas” que escrevemos serão respondidas por nossos alunos com as palavras que nós queremos ouvir e imediatamente. Se a resposta não vem como esperamos, significa que a “carta” não agradou, ou eu não consigo escrever para aquela pessoa, ou ainda que ela não se correspondeu comigo, por não ter alcance para me entender. Nosso grande desejo como professores é que nossos alunos reproduzam o que nós sabemos. Mas isso é impossível. Eles são livres e, mais do que isso, nós não devemos querer que eles nos reproduzam, pois recalcariam o velho. Nós temos que dar condições para que o novo penetre na escola e o novo pode ser o posicionamento de uma criança de nível mais baixo ou mais alto que a média, mas que faz com que o desequilíbrio aconteça nas turmas e as torne mais ricas, ativas, diante de um conhecimento em construção. E como corremos contra o desequilíbrio e não a seu favor; não queremos um ambiente escolar onde as idéias se entrechocam e admitimos que os alunos sejam diferentes só quando entram em uma série escolar, pois têm de estar igualados em conhecimentos para que saiam dela, não podemos admitir o dissenso, que é natural e desejável na escola ou em qualquer outro lugar de aprendizagem. A escola tem de ser esse lugar em que as crianças têm a oportunidade de ser elas mesmas e onde as diferenças não são escondidas, mas destacadas.

Todas essas considerações são importantes para que possamos levar adiante nossos propósitos de tornas as escolas abertas às diferenças e elas implicam na criação de estratégias, de práticas de ensino que mudam a maneira de ser dos professores e alunos, diante dos conteúdos escolares.

Dificuldades

No ensino regular é ainda difícil atuar de modo includente, pois todos esses assuntos de que estou tratando aqui não entram nas nossas cabeças de professores com facilidade e nem mudam as escolas, em seguida. Na minha concepção e por tudo que tenho pesquisado, estudado, observado diretamente em sala de aula, o que torna o ensino regular de qualidade tem a ver com mudanças na sua organização pedagógica, nas suas práticas e esse desafio, infelizmente, não tem sido enfrentado com freqüência por professores, gestores das escolas comuns, públicas e privadas.

Não há descontinuidade no desenvolvimento dos seres humanos, não voltamos para trás por repetência. Esses equívocos, contudo, persistem na nossa cultura escolar. Achamos que sabemos quando um aluno pode ou não aprender um determinado conteúdo, o tempo dessa aprendizagem e até a atividade ideal para esse fim. Como predeterminamos tudo isso, nós mesmos colocamos barreiras ao ensino e à aprendizagem que depois irão se reverter contra nós próprios. Aí vêm as frustrações, os professores acham que não estão preparados, não conseguem fazer com algumas crianças aquilo que conseguem com outras etc. Mas eles não se perguntam: será que estou conseguindo mesmo tudo isso com alguns alunos ou esses meninos estão fazendo o “jogo do contente” para me agradar?

Quem de nós, professores, pode sustentar que um aluno está aprovado, por meio de testes e.provas, cujas notas definem o que aluno realmente aprendeu de tudo o que neles foi questionado? Se a resposta é fechada em um “x”, ou em uma idéia que o professor selecionou antecipadamente, fica ainda mais difícil e complicado. Eu não posso invadir a cabeça dos meus alunos, não posso atestar o que eles realmente aprenderam. A prova é algo muito impreciso, precário mesmo. A avaliação tem de recair sobre outras situações e analisar a aprendizagem de outros ângulos, por outros caminhos e não apenas pela reprodução do conhecimento, como acontece rotineiramente, causando enormes preocupações aos pais e professores. No meu tempo de escola primária, se você aprendesse o “Dado Mágico” na primeira série do Instituto de Educação Caetano de Campos, você era considerado um bom aluno. O “Dado Mágico” não passava de 25 folhas de cartilha, mas era aquilo que se entendia como estar alfabetizado. Hoje uma criança que está na Educação Infantil já sabe entrar nos programas do computador e dizer à sua mãe o que ela quer aprender ou o que descobriu, navegando na Internet.

Escola especial?

O meu foco sempre foi a escola comum, mas, de repente, eu resolvi que era preciso que eu me voltasse para a educação especial, em sua nova interpretação, como modalidade de ensino e complemento da formação do aluno com deficiência e com altas habilidades. Minha intenção é tentar, por este atalho, chegar cada vez mais perto da inclusão escolar. Muitos acharam que eu tinha “virado a casaca”!. Percebi que este novo caminho seria uma boa estratégia. De fato, o que faz a escola comum se mobilizar para atender a todos os alunos, indiscriminadamente, existindo um ensino especial substitutivo para alunos com deficiência e altas habilidades? O que a tira do lugar acomodado em que se encontra, existindo uma classe especial para a qual esse aluno pode ser encaminhado, caso ele não dê conta da escola comum? Havendo uma escola especial para a qual esses alunos podem ser encaminhados, um professor itinerante que entra na sala de aula para ensiná-los à parte com um currículo adaptado, um especialista para avaliar seu desempenho em sala de aula,o que o ensino comum tem como razões para que enfrentar a inclusão?

Se tenho a possibilidade de afastar aqueles alunos que me atrapalham, que contestam a minha maneira de entender o processo escolar, se eu tenho a neutralização desses desafios e perturbações o que me resta a dizer é que eu não estou preparado para ensinar esses alunos. E que eles sofrem nas nossas salas, porque não acompanham a turma. Novamente temos o foco na dificuldade do aluno e não na avaliação daquilo que o professor oferece como ensino. Eu diria, sendo professora como vocês, que a gente persiste muito tempo em uma situação que não está dando certo. Continuamos batendo na mesma tecla, sem ir ao encontro de outras saídas. Por isso resolvi lutar em favor de uma nova política de Educação Especial. Penso que definir o que é a Educação Especial, a partir do que preceitua a nossa Constituição, é um passo importante e que pode ser uma alternativa para se chegar à escola inclusiva.

Se fecharmos todos os buracos de uma casa onde um rato penetrou, anularemos a possibilidade de ele se esconder em um deles e conseguiremos capturá-lo. Enquanto houver um buraco ele se esconderá... A questão é tapar os buracos, verificar onde estamos escondendo nossos problemas, onde estão os escapes que evitam o seu enfrentamento.

Enquanto a Educação Especial continuar sendo substitutiva do ensino regular para alunos com deficiência, nada mudará. As Diretrizes da Educação Especial no Ensino Básico (que está sendo contestada, por ferir a nossa Constituição) refere que alguns alunos podem ser inseridos nas escolas comuns e outros, não. Quem somos nós para dizer que um aluno pode ou não ter garantido o seu direito à educação, se este é um direito indisponível de todas as pessoas, com e sem deficiência?

Dizemos aos pais, com toda facilidade: “esse caso é muito difícil, é melhor você procurar um professor especializado, pois não estou preparado para atende-lo”, ou “ele só vai ficar aqui por ficar, pois agora é lei”. A questão está acima da lei, pois respeitar o direito à educação tem a ver com uma ética educacional, que não admite exclusões, restrições, quando se trata de acolher os alunos, nas escolas.

Desde 2003, coordeno um projeto na UNICAMP.Trata-se do TODOS NÓS – Unicamp Acessível. Oferecemos, no “Laboratório de Acessibilidade” da Biblioteca Central César Lattes, atendimento educacional especializado a alunos com deficiência, que estudam em nossa universidade.A atendimento educacional especializado deve estar localizado, preferencialmente, dentro das escolas comuns de nível básico e superior, e contar com professores especializados em alunos com cegueira, surdez e outras deficiências, pois esses alunos têm, por lei, direito à diferença, na igualdade de direitos. Eles precisam de orientação, de material didático específico. Esse atendimento não oferece aulas especializadas de Química, Matemática etc a esses alunos. Os professores especializados estão lá para atender às necessidades específicas desses alunos relacionadas às suas deficiências e não às suas necessidades diante dos planos de curso, dos trabalhos acadêmicos que se desenvolvem nas salas de aulas das Faculdades e Institutos da Unicamp. Cito um exemplo. Temos um aluno com surdez total, que é oralizado, mas que também se comunica por sinais e que não quer intérprete na sala de aula. Lê muito bem e está trabalhando no Instituto de Química, mas tem muita dificuldade de escrever - o que é normal, pois a Língua Portuguesa para uma pessoa com surdez é uma segunda língua que tem uma estrutura diferente da língua de sinais. Se ele escreve mal, isto não significa que seja um aluno que entende mal o conteúdo do seu curso ou é uma pessoa prejudicada intelectualmente.Um de seus professores procurou o nosso atendimento, no Laboratório de Acessibilidade, referindo-se ao fato de que ele não conseguia entender o que o aluno escrevia, mas como ele é oralizado, pedia para que ele explicasse, falando. Mas ele também tinha dificuldade de se exprimir oralmente. Esse professor queria saber como fazer diante dessa situação. Notem que ele não estava perguntando como ele teria de dar aula para uma pessoa surda e sim que conduta deveria adotar diante da dificuldade de entender a resposta do aluno. Ele se referia a erros de Português, dificuldade de expressão, dado que no conteúdo de Química este aluno ia muito bem.

O atendimento educacional especializado não trabalha com as áreas curriculares, não trabalha com o que é da escola, ou seja, a Educação Especial, hoje, como modalidade de ensino que é transversal a todos os níveis de ensino, desde o básico ao superior, não é especializada no ensino de matérias curriculares para alunos com deficiência, porque senão teríamos de oferecer um professor de Química especializado em alunos surdos na UNICAMP, um outro professor de Cálculo para alunos com cegueira e assim por diante. No ensino básico ainda é comum se entender que o professor especializado é o que sabe ensinar o conteúdo curricular para alunos que têm dificuldade de aprendizagem escolar, sejam ou não pessoas com deficiência. Basta não estarem acompanhando a turma. Esta é para mim a grande questão que temos de enfrentar na Política de Educação Especial, na perspectiva inclusiva.

Qual, então o novo papel da Educação Especial? É nisso que estamos trabalhando, na nova Política. Nosso, propósito, é definir seus serviços e, principalmente, o que é o atendimento educacional especializado. É absolutamente necessário que a escola comum tenha como certo que o ensino é para todos e que só alguns poderão ser encaminhados para o ensino especial, onde aprenderão conteúdos, uso de ferramentas que têm a ver com o que é próprio de suas deficiências e necessário para que possam enfrentar as exigências da escola comum. Se um aluno tem deficiência visual, ele vai para escola comum e em outro horário e com um professor especializado aprende o uso da máquina Perkins, a utilizar leitores de texto no computador, a lidar com o ábaco para fazer contas, ou seja, com aquilo que não é conteúdo da escola, mas é fundamental para que ele possa aprender a tabuada e fazer cálculo, escrever, ler aprender, como e com os demais colegas da turma.

Eu tinha uma aluna chamada Josefina, que era professora de alunos com cegueira e com deficiência visual e um dia ela disse estar com problemas com uma professora de classe comum de sua escola. Ela queria que Josefina ensinasse a tabuada para um aluno com cegueira. A Josefina disse que ensinava o uso do ábaco para ele e a outra professora, ficaria com a tabuada. O que essa professora da classe comum queria, na verdade, era que a professora especializada ensinasse a tabuada no ábaco para o aluno cego! Quem sabe lidar com o ábaco, tendo uma boa aula de tabuada vai ter condições de aprendê-la, na classe comum. Não existe um método para ensinar tabuada para alunos com cegueira e sim uma ferramenta para que ele possa fazer cálculos e aprender a Matemática e quem ensina o uso dessa ferramenta é o professor especializado. A professora comum não precisa aprender a trabalhar com o ábaco, mas precisa saber como ensinar a tabuada para os seus alunos. O mesmo ocorre com os alunos com deficiência física, de locomoção, de fala, e comunicação. A tecnologia assistiva, não é conteúdo escolar, mas é da responsabilidade da escola comum oferecer essa ferramenta e o ensino de como usá-la a alunos que precisam dessa tecnologia para terem acesso e participação nas salas de aula.

Por uma nova Política Nacional de Educação Especial

É necessário que as escolas comuns não tenham mais escapes para encaminhar alunos que ela não dá conta de ensinar e que fique bem claro que o professor especializado não é expert em alfabetizar alunos com surdez, com deficiência visual, mental, com dificuldade de aprendizado. Ele não é o professor que recupera, dá reforço aos alunos que não vão bem nas classes comuns. Uma vez aprovada e instituída, a nova Política de Educação Especial vai esclarecer as redes estaduais e municipais de educação sobre o que deverão oferecer como serviços especializados nas suas escolas comuns, preferencialmente. Já estamos formando professores, na modalidade ensino a distância, em todo o Brasil, para que essas redes possam criar seus serviços de ensino especial, na perspectiva inclusiva.A formação continuada para o atendimento educacional especializado está sendo financiada pelo MEC. Dez professores de cada um dos 147 municípios-pólos do programa Educação Inclusiva Direito à Diversidade da Secretaria de Educação Especial – SEESP/MEC já participaram da primeira edição do curso. Vamos para a sua segunda edição, em 2008. Pretendemos, até o final do atual governo, fazer várias outras.

Temos ainda muito a fazer para que a educação brasileira adquira a qualidade que tanto almejamos, depois de termos conseguido que ela se democratizasse. A educação inclusiva é exigente e implica em uma organização pedagógica que difere da que tradicionalmente existe em nossas escolas, assim como a Educação Especial, em sua nova interpretação, como modalidade de ensino. As tarefas estão aí para serem cumpridas e, como bons educadores que somos, vamos assumi-las com empenho e responsabilidade cidadã.


Maria Teresa Eglér Mantoan é doutora em Educação e professora dos cursos de graduação e de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp/SP e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade – LEPED – FE/Unicamp tmantoan@unicamp.br.
É autora do livro Inclusão escolar - O que é? Por quê? Como fazer? pela Moderna.
Fonte: http://www.moderna.com.br/moderna/didaticos/ei/artigos/2008/atendimento-educacional-especializado-o-que-e-por-que-como-fazer
Contribuição e postagem: Marília

Nenhum comentário:

Postar um comentário